Otá - o início dos assentamentos
Por Rubens Saraceni, Retirado do J.U.S. -
Pertencente ao livro "Oferendas e Assentamentos na Umbanda"
Um assentamento começa a ser
construído sem pressa pelo médium, peça a peça, até que ele tenha no mínimo
sete elementos do Orixá, todos já consagrados, tanto no seu ponto de forças,
quanto no seu centro de Umbanda.
Não é preciso esperar abrir o centro
para começar a constituí-lo rapidamente. Um dos primeiros elementos é o Otá
ou pedra do seu Orixá.
O Otá equivale a "pedra fundamental"
das grandes construções civis ou de grandes templos erigidos no plano material
pelas mais diversas religiões.
Cada Orixá tem a sua pedra (as) e é
por ela que o médium deve começar a constituição dos fundamentos do assentamento
do seu próprio Orixá.
Nos relatam os nossos mais velhos
que, durante o período da escravidão, quando se realizava a cerimônia de iniciação
dos noviços, estes iam mata adentro à procura do seu Otá ou pedra do seu Orixá,
e voltavam só ao amanhecer, já com ela entre as mãos.
Dali em diante, ela seria o mais poderoso
elo de ligação com seu Orixá. Seria conservada com zelo e alimentanda
periodicamente para manter integralmente seu axé (poder).
Normalmente ela era condicionada em
uma quartinha de barro, pois a louça era um artigo raro e caro, inacessível
às classes menos favorecidas. Panelas, vasos, tigelas, canecos, e outros
utensílios feitos de barro cozido, eram comuns e de uso cotidiano, não só pelos
indígenas, uma vez que os colonizadores mais pobres também usavam utensílios
de barro cozido. Eram os vasilhames e utensílios mais populares e mais
baratos naquela época, certo?
Hoje, quando você tem os mesmos
utensílios em louça, pode usá-los à vontade. Até porque as quartinhas de barro
precisam passar por um envernizamento externo e por um revestimento oleoso interno,
para que a água ou outra bebida colocada dentro dela não seja absorvida pelo
barro e, sob temperaturas elevadas evapore completamente.
Então, como atualmente você não
precisa sair às escondidas e em altas horas da noite para encontrar na escuridão
o seu Otá ou pedra do seu Orixá, recomendamos que a encontre num rio ou
cachoeira pedregosa e ali, calmamente, escolha-o e assim, recolha-o levando-o
para casa já envolto em um pedaço de pano com a cor do seu Orixá.
Mas lembre-se: Não é só chegar até o leito pedregoso do rio, catar uma pedra rolada, envolvê-la num pano e ir embora. Não mesmo!
Mas lembre-se: Não é só chegar até o leito pedregoso do rio, catar uma pedra rolada, envolvê-la num pano e ir embora. Não mesmo!
Há todo um ritual que deve ser
cumprido à risca se quiserem que seus Otás tenham axé ou poder de realização.
Abaixo vamos descrevê-lo:
1- Encontrar um trecho de rio de
águas limpas que seja pedregoso;
2- Numa margem dele, oferendar nossa
mãe Oxum e pedir-lhe licença para recolher dos seus domínios o Otá do seu
Orixá.
3 - Depois, oferende o seu Orixá na
outra margem ou, se for na mesma, faça-a mais abaixo da oferenda que fez para a
Senhora Oxum.
4 - Já com a oferenda feita, derrame
no rio uma garrafa de champagne ou outra bebida doce e 7 punhados de açúcar,
oferecendo-os aos Seres das Águas, pedindo-lhes licença para entrar no rio e
recolher seu Otá.
5 - Isto feito, o médium deve entrar
no leito do rio e procurar uma pedra rolada que o atraia mais que as outras e,
quando encontrá-la, deve pedir licença à Mãe e aos Seres da Àgua para pegá-la
para si.
6 - Após pegá-la, deve elevá-la com
as duas mãos acima da cabeça e, como numa oração, dizer estas palavras:
"Meu Pai (ou Mãe) Orixá tal, eis a pedra de axé, o meu Otá! Abençoe-o
com tua luz, com teu manto divino e com teu axé, tornando-a, a partir de agora,
minha pedra sagrada!"
7 - Após fazer essa primeira consagração
a pessoa deve ir até onde está a oferenda da Mãe Oxum e apresentá-la
segurando-a na palma das mãos unidas em concha, dizendo-lhe estas palavras:
"Minha Mãe Oxum, apresento-lhe meu Otá. Abençoe-o, minha amada Mãe!"
8 - Após receber a benção da Mãe
Oxum, a pessoa deve dirigir-se até onde está a oferenda do seu Orixá, colocá-la
dentro dela e fazer esse pedido: "Meu Pai (minha Mãe) Orixá tal, peço-lhe
que aqui, dentro da sua oferenda, consagres essa pedra de forças, esse meu
Otá".
9 - Após esse pedido, a pessoa deve
aguardar uns 10 minutos para recolhê-la e envolvê-la no pedaço de pano na cor
do Orixá. Mas antes, deve dizer estas palavras: "Meu Pai (minha Mãe), peço-lhe
licença para recolher meu Otá com seu axé, e envolvê-lo nesse pedaço de pano
que simboliza seu manto protetor para que eu possa levá-la para minha casa
protegida e ocultada dos olhares alheios".
10 - Recolha-a e embrulhe-a com o
pano. Então peça licença e vá para casa.
Chegando em casa, risque um símbolo do seu Orixá, coloque-o dentro dele; acenda uma vela de 7 dias e coloque-a dentro dele. Invoque seu Orixá, pedindo-lhe que alimente-a com sua luz viva, só recolhendo-a e guardando-a em um local adequado quando a vela for toda queimada.
Chegando em casa, risque um símbolo do seu Orixá, coloque-o dentro dele; acenda uma vela de 7 dias e coloque-a dentro dele. Invoque seu Orixá, pedindo-lhe que alimente-a com sua luz viva, só recolhendo-a e guardando-a em um local adequado quando a vela for toda queimada.
Caso queira, poderá pegar uma tigela
de louça colocar dentro dela um pouco de água e macerar um punhado de folhas do
Orixá para, em seguida colocar dentro o seu Otá, iluminar com uma vela de sete
dias e pedir-lhe que incorpore-lhe seu axé vegetal.
Após sete dias com o Otá imerso no caldo vegetal poderá lavá-lo em água corrente que o axé vegetal do Orixá terá sido incorporado a ele.
Após sete dias com o Otá imerso no caldo vegetal poderá lavá-lo em água corrente que o axé vegetal do Orixá terá sido incorporado a ele.
Só então, a pessoa poderá alimentá-lo
com a bebida do Orixá. Para alimentá-lo poderá fazê-lo derramando-a na mesma
tigela usada para as ervas. O procedimento é idêntico:
Coloca-se a bebida; a seguir coloca-se
o Otá; cobre-se a tigela com o pano na cor do orixá; ilumina-se com uma vela de
7 dias e faz-se uma oração para que o Orixá alimente-o com o axé da sua
bebida.
Após sete dias, retire o Otá, lave-o
em água corrente e coloque-o dentro de uma quartinha de louça ou de barro
cerâmico;
Encha-a com água engarrafada
adquirida no comércio pois não contêm cloro e coloque-a, já tampada, em seu
altar, oratório ou em um local onde só você mexa.
Então, periodicamente, troque a água
ou complete-a, que seu Otá passará a atuar em seu benefício, atuando como um
ponto de força do seu Orixá.
Quando vier a fazer o assentamento
dele, coloque nele a sua quartinha com seu Otá dentro dela, passando a
alimentá-la com ela já assentada em definitivo. Aí está seu verdadeiro e
genuíno "Otá"!
Temos ouvido relatos de que alguns
dirigentes espirituais adquirem no comércio algumas pedras roladas ou
pedregulhos, já manuseados por outras pessoas e, num ritual simples colocam-nos
dentro da quartinha dos seus filhos espirituais onde, daí em diante estes
passarão a alimentá-la periodicamente como se tivessem de fato o axé dos
Orixás deles.
Mas isto não é verdadeiro e sim,
assemelha-se a uma simpatia, que tanto pode funcionar como não.
Um Otá genuíno só deve ter a mão do
seu dono e só deve ter a vibração do seu Orixá. Qualquer outra vibração
incorporada ao Otá de uma pessoa influirá negativamente sobre ele e sobre o
seu dono, assim como sobre o próprio Orixá.
Isto acontece quando quem participou
da consagração do Otá fica de mal humor; com raiva; com ódio dele; com
antipatia por ele, etc.
Um Otá é algo pessoal e não deve ser
manipulado por mais ninguém além do seu dono e só deve conter suas vibrações
e as do seu Orixá.
Além do mais, caso a quartinha com o
Otá fique nas dependências do Templo que a pessoa freqüenta, várias coisas
podem influir sobre ela e ele tais como:
- Caso o Templo esteja sendo demandado
os donos dos Otás também serão atingidos.
- Caso virem as forças assentadas ou
firmadas no Templo, as dos donos dos Otás também serão viradas.
- Caso prendam as forças assentadas
ou firmadas no Templo, as dos donos dos Otás também serão presas.
Caso o dirigente fique com ódio de um
médium seu, poderá atingí-lo através do seu Otá, e qualquer outros elementos
pessoais colocados dentro da quartinha (pois há os que colocam um chumaço de
cabelo, retirado do ori do seu filho de santo).
Recomendamos às pessoas que forem prejudicadas dessa forma que comprem 7 quartinhas de louça; consigam 7 líquidos diferentes, tais como: mel, bebida do seu orixá, água doce, água salgada, água com ervas maceradas, água com pemba branca ralada misturada e água de côco.
Recomendamos às pessoas que forem prejudicadas dessa forma que comprem 7 quartinhas de louça; consigam 7 líquidos diferentes, tais como: mel, bebida do seu orixá, água doce, água salgada, água com ervas maceradas, água com pemba branca ralada misturada e água de côco.
Com esses sete líquidos engarrafados
separadamente, devem ir até uma cachoeira e nela fazer uma oferenda a Mãe
Oxum.
Após fazer a oferenda devem pedir-lhe
licença para colher 7 pedras no leito da cachoeira. Após colhê-las colocá-las
dentro das 7 quartinhas e acrescentar um pouco de água da cachoeira.
A seguir, colocar as quartinhas em
círculo e derramar dentro de cada uma o líquido de uma garrafa. Acender 7 velas
amarelas juntas no centro do círculo das quartinhas; acender 7 vermelhas do
lado de fora do círculo de quartinhas, uma para cada uma.
Na seqüência, fazer essa oração poderosa ajoelhado diante do círculo de quartinhas:
Na seqüência, fazer essa oração poderosa ajoelhado diante do círculo de quartinhas:
"Minha amada e misericordiosa
Mãe Oxum, clamo-lhe nesse momento em que sofro um ato de injustiça, que a
Senhora ative o seu Sagrado Mistério das Sete Quartinhas e, em nome do Divino
Criador Olorum, de Oxalá, da Lei Maior e da Justiça Divina, que essa
injustiça seja cortada, anulada e retardada, e que, quem a fez contra mim seja
rigorosamente punido por Olorum, por Oxalá pela Lei Maior e pela Justiça
Divina, assim como pelo Orixá, pelo Exu Guardião, e pela Pombagira Guardiã
dela, que assim, punida rigorosamente, nunca mais use do seu conhecimento
para prejudicar-me e a ninguém mais.
Peço-lhe também, que tudo o que essa
pessoa fez e desejou contra mim, contra minhas forças espirituais e contra meu
Orixá, que na Lei do Retorno seja voltado integralmente contra ela, punindo-a
rigorosamente por ter me faltado com o respeito e com a fraternidade humana que
deve reinar em nossa vida.
Peço-lhe também que essa pessoa seja
punida com a retirada dos seus poderes e conhecimentos pessoais, assim como,
que dela sejam afastados todos os seus filhos espirituais e seus amigos, para
que não venham a ser vítimas da perfídia, da traição e do ódio dela por quem a
desagrada.
Peço-lhe também que os Orixás e os
Guias Espirituais de todos os filhos espirituais dessa pessoa maligna sejam
alertados da perfídia dela e tomem as devidas providências para protegerem-se,
e aos seus filhos, da traição e da falsidade dessa pessoa indigna perante os
Sagrados Orixás, o Divino Criador, Olorum, a Lei Maior e a Justiça Divina, e
todos os umbandistas.
Que a Lei Maior e a Justiça Divina
comecem a atuar e só cessem suas atuações quando ela pedir-lhes perdão pela
injustiça cometida. Ou, caso ela não o faça, então atuem pondo-a para fora da
Umbanda para que nunca mais manche-a com sua perfídia, traição e falsidade.
Peço-lhe e peço a todos os poderes
invocados aqui, que me protejam de todos os atos negativos que essa pessoa
traiçoeira e perfídia venha a intentar contra mim, minhas forças, meu Orixá,
minha vida e família, assim como vos peço que cada ato dela feito contra mim de
agora em diante seja virado e seja revertido contra ela, punindo-a ainda mais.
Amém"!
Essa oração é tão poderosa, que
imediatamente a pessoa que cometeu o ato indigno de atingir um filho espiritual,
as suas forças espirituais e ao seu Orixá, começa a ser punida de tal forma,
que em pouco tempo, ou ela desfaz o mal feito e pede perdão ao atraiçoado ou
sua vida terá uma reviravolta tão grande que acabará afundando em sua
maldade.
É a justa punição para quem ousa
atingir o orixá alheio.
Essa magia e essa oração forte não
deve ser usada para futricas e intrigas pessoais pois nossa amada Mãe Oxum não
está à nossa disposição para essas coisas e sim, ela nos concede a ativação do
seu Sagrado Mistério das Sete Quartinhas para que atos indignos cometidos
contra nossos Guias e Orixás sejam punidos rigorosamente.
Bem, após essa magia para a defesa de vítimas de trabalhos para atingí-las a partir do seu Otá, continuemos com os comentários sobre a "pedra fundamental" dos médiuns umbandistas.
Bem, após essa magia para a defesa de vítimas de trabalhos para atingí-las a partir do seu Otá, continuemos com os comentários sobre a "pedra fundamental" dos médiuns umbandistas.
Saibam que um Otá (ou pedra de força)
também pode ser encontrado e recolhido em outros lugares além do leito dos
rios. Pedras são encontradas na terra, no sopé das montanhas, em pedreiras,
etc.
Se a sua pedra de forças (aquela que
o atraiu) for encontrada dentro de uma mata ou bosque, aí você deve pedir
licença ao Orixá Oxóssi para recolhê-la e consagrá-la ao seu Orixá.
Se ela foi encontrada na terra, em
algum campo aberto, peça licença ao Orixá da terra, Omulú.
Se ela for encontrada no sopé de uma
montanha, ou mesmo nela, peça licença ao Orixá Xangô.
Se ela for encontrada em uma
pedreira, peça licença ao Orixá Yansã.
Se ela for encontrada nas margens de
um lago ou do estuário de um rio, peça licença ao Orixá Nanã Buruquê.
Se ela for encontrada nas margens ou
no fundo de uma lagoa, peça licença ao Orixá Obá.
Se ela for encontrada a beira mar ou
mesmo dentro das suas águas, peça licença ao Orixá Iemanjá.
Se for "encontrada" no
comércio de pedras, aí é problema seu, certo?
Afinal, um Otá genuíno não é uma
pedra semi-preciosa e sim, é um eixo rolado ou um pequeno geodo ainda na
natureza e que não passou de mão em mão.
Quando a "pedra ideal" é
encontrada, como que por acaso, e o médium não estava ali com a finalidade de
encontrar seu Otá, mas deseja recolhê-la e levá-la para sua casa porque
"sente" que ela tem algum poder ou finalidade mágica, este deve
ajoelhar-se perto dela e, dependendo do campo vibratório em que ela se
encontra, ali deve fazer uma oração ao Orixá regente dele e pedir-lhe permissão
para recolhê-la e levá-la para sua casa pois já se estabeleceu uma afinidade
entre ambos.
Se você ainda não souber que tipo de
afinidade se criou, recolha-a, e leve-a embora. Guarde-a e aguarde, porque
pode ser que mais adiante um guia espiritual manifeste-se e lhe dê orientações
sobre ela e como tratá-la dali em diante.
Agora, se em todo o lugar da natureza
que você for, encontrar uma ou mais pedras que o atraiam intensamente, aí já
se trata de uma coisa pessoal e o melhor a fazer é tornar-se um colecionador
de pedras ornamentais ou raras.
obs. Texto inédito do
Escritor Rubens Saraceni publicado no mês de fevereiro pelo Jornal de Umbanda
Sagrada.
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