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sexta-feira, 23 de setembro de 2011


Deusa ou santa?


Cheia de ligações, mistérios e estranhas coincidências, o dia 1 de fevereiro é dedicado a celebração de Santa Brigida e da deusa Brighid. Num misto de tradições celtas e cristãs, vale a pena se aprofundar um pouquinho e trazer do passado e do presente estes referenciais de devoção. Maravilhosos sincretismos, sobrevivência e perpetuação da fé.

Brighid também conhecida por Brigit, Bríde, Briget, Briid é uma Deusa muito popular na Irlanda, cultuada em todos os territórios onde os celtas se instalaram. A palavra "Brig", em irlandês arcaico, significa força, poder. Segundo, alguns filósofos, tal correlação pode estar por detrás da existência de guerreiros chamados Brigands ou "soldados de Brighid".

Brighid, que significa "luminosa" é uma Deusa tríplice do fogo da inspiração, da ferraria, da poesia, da cura e da adivinhação. Isto é, as funções que lhe atribuem são triplas, correspondentes às três classes da sociedade indo-européia:

- Deusa da inspiração e da poesia - Classe Sacerdotal
- Protetora dos reis e dos guerreiros - Classe Guerreira
- Deusa das técnicas - Classe de artesãos, pastores e agricultores


Como Deusa, Brighid, é uma entidade fortemente vinculada com a inspiração e a criatividade, tanto que na tradição Britânica dos Druidas foi assimilada como a "Deusa dos Bardos", por ser a "musa" que inspirava àqueles grandes sacerdotes similares aos Brahamanes da Índia.

Atualmente se diz que Brigid é o veículo e guardiã do "Awen", o sopro de seu pai (Dagda), ou a "consciência da inspiração", um estado muito variado de magnitude e cujos mistérios mais profundos parecem indicar um estado elevadíssimo de consciência, parecido ao ao Shamadi ou transe Yóguico.

Brighit também foi uma Deusa muito vinculada à curas (com ervas) e lhe eram atribuídos mágicos conhecimentos das propriedades curativas das plantas. Como conhecedora desses mistérios é uma Divindade vinculada à Bruxaria, já que as bruxas sempre foram, na antiguidade, mulheres de avançada idade que possuíam um vasto conhecimento sobre as propriedades naturais e intrínsecas das plantas para todo o tipo de uso medicinal.

A Deusa era ainda uma grande guerreira que afugentava as tropas inimigas de qualquer exército quando era invocada, e também, infundia valor ao exército que apadrinhava. Brigid apareci freqüentemente de maneira imensa e feroz lançando gritos de raiva frente aos exércitos que pretendia afugentar. Desse mesmo modo, os Celtas antes das batalhas lançavam gritos selvagens e ininteligíveis com o único propósito de amedrontar à seus adversários.

Brighid assumiu inúmeros aspectos e atributos através dos tempos. Suas cores sagradas são o vermelho, o laranja e o verde. Cada uma dessas cores representa um atributo. O vermelho simboliza o fogo da forja, da lareira que aquece e alimenta. O laranja representa a luz solar, pois antes da ascensão patriarcal de Deuses como Bel e Lugh ao patamar de Deuses solares, era a Brigid que o Sol era consagrado. O verde representa as fontes e ervas que curam, no papel de Brigit como Curandeira.

Seus símbolos são a haste e a roca de fiar, a chama sagrada, a espiral, o triskle, o torc, o pote de fogo e seus sapatos de latão.

Possui 4 animais sagrados: a cobra, a vaca, o lobo e o abutre. A Cobra é a "Serpente Criadora" que era guardada em seus santuários onde oráculos eram revelados aos homens. O seu segundo animal é a Vaca Sagrada. Seu abundante leite nutre humanos e crianças. Ela é conectada com o lobo,pois ele é um dos animais totem das Ilhas britânicas. E em seu aspecto de Deusa da Morte, ela está associada com o Abutre ou outras aves de rapina. Igualmente lhe é sagrado o cisne, tanto o branco quanto o negro. Os antigos povos europeus acreditavam que o cisne era o resultado da união da serpente com o pato, simbolizando o fogo e a água respectivamente, ambos sagrados para Brigid.


A Nova Cristã e Antiga Pagã, Brighid, fundiram-se na figura de Santa Brígida. Mas, ela se converteu em Santa sem perder de todo sua qualidade de Antiga Deusa. Em Drumeague, Country Cavan, num lugar chamado "a montanha dos três deuses", uma cabeça de Brighid fui talhada em pedra como uma deidade tripla. Porém, com a chegada do cristianismo, foi escondida em uma tumba neolítica. Depois foi recuperada e exposta em uma igreja local, onde foi canonizada popularmente como "Santa Bride de Knockbridge.

Brighid teria nascido em 452, no vilarejo de Faughart (próximo a Dundalk, Co. Lough), ao romper da aurora, hora de máxima importância para a filosofia celta. Era filha do nobre Dubhtach (pagão), chefe da Província de Leinster, e Broicsech, uma escrava. Em uma das versões da lenda, conta-se que, ao nascer, a casa em que estava ficou totalmente envolta por um fogo mágico, que assustou à todos que presenciaram à cena. Entretanto, ninguém queimou-se. Vários textos afirmam que tal fogo surgiu do centro da cabeça da criança, talvez para identificá-la como uma santa portadora de um poder criador.

Brigid foi educada por um druida e desde muito cedo manifestou o dom da profecia. Mas certo dia ela adoece gravemente e, o druida consegue salvá-la alimentando-a com o leite de uma vaca branca de orelhas vermelhas. Em muitas lendas aparecem animais com essas cores, que são animais mágicos pertencentes ao Outro Mundo.

Os cristãos, gerando uma estranha contradição, afirmam que apesar de muito bela, Brigid permanece virgem. Contam, que para não casar, ela vazou seu próprio olho, tornando-se desinteressante para seus pretendentes. E, apesar de ter sido criada e instruída por um druida, Brigid escolhe se converter à nova religião. Nessa época era comum as mulheres serem ordenadas sacerdotisas, e até episcopisas. Esse, portanto, foi o caso de Brigid, que, de acordo com a lenda, foi ordenada pelo próprio São Patrício, o Padroeiro da Irlanda.

No ano de 490, ela funda um convento na localidade de Kildare, local de peregrinação dos seguidores da religião celta pré-cristã. O próprio nome Kildare, "Templo do Carvalho" (Cill Duir), já explica sua origem pagã, pois essa árvore era associada ao druidas.

Neste convento havia uma chama sagrada que devia sempre arder. Dezenove sacerdotisas-freiras guardavam a sua pira sagrada, alimentando o fogo. Conta-se que, no vigésimo dia de cada mês, ela aparece e vigia o fogo pessoalmente. Aos homens não eram permitida a entrada. Segundo as lendas, aqueles que tentassem se aproximar da fogueira eram acometidos de estranhos surtos de loucura e podiam até perder a vida.

Na obra de Cogitosus, "Vita Brigitae", escrita no século VII, Santa Brigida é descrita como uma santa generosa, sempre disposta a conceder alimentos e hospitalidade aos necessitados. Devido à essas virtudes é a santa mais relacionada com a produção de alimentos e proteção da vivenda campesina. O dia de sua celebração está conectado com os trabalhos agrícolas da semeação na primavera, quando começam a diminuir os rigores do inverno e os dias se tornam mais claros e longos.

Em algumas regiões da Irlanda, como nos condados Munster, de Connaught e algumas localidades fronteiriças de Ulter, uma das principais tradições que se efetuavam no dia de Santa Brigida consistia em ir de casa em casa disfarçados com vestes grotescas e transportando uma rústica representação da Santa, que podia ser uma boneca adornada com palhas entrelaçadas e com cintas coloridas. Em muitas localidades do Sul do país, os homens se vestiam do mesmo modo esfarrapado com roupas de mulher, e ocultavam os rostos com máscaras de facções horríveis.

Quando se aproximava o dia da Santa Brigida, os camponeses irlandeses saíam para dar uma volta qualquer em seus campos de lavoura. Com essa ação consideravam que era favorecida a chegada do bom tempo, que necessitavam para efetuar os trabalhos agrícolas da temporada.

Os pescadores irlandeses também esperavam uma melhoria no tempo quando se aproximava a festa de Santa Brigida. Nesse dia era quando reiniciava a temporada de pesca e os habitantes dos povoados costeiros recolhiam algas para adubar os campos. Em Galway, se acreditava que a pesca seria abundante si no dia dessa Santa se colocasse um caracol (molusco marinho) nos quatro cantos da casa.

Os irlandeses acreditavam que a Santa Brigida visitava suas casas na noite do dia de sua festa para benzer o gado e seus donos. Como oferenda à santa, os mais devotos deixavam na janela um pedaço de pão, um pouquinho de manteiga ou alguns biscoitos, inclusive alguns deixavam um feixe de trigo para servir de comida à vaca branca que sempre acompanhava à Santa. Outros deixavam uma faixa, um pedaço de tecido ou qualquer outra prenda, para que fosse tocado quando a Santa passasse. Esses objetos eram guardados depois cuidadosamente, pois tinham a virtude de proteger em qualquer situação de perigo à quem os transportasse.

Brigid era tão poderosa que São Patrício, arcebispo de toda a Irlanda, concede a Kildare autonomia total. O fogo sagrado de Kildare foi mantido aceso até 1220, quando o arcebispo Henry de Dublin ordena, para desespero da população, que fosse extinto. Posteriormente a chama sagrada volta a arder, até que Henrique VIII e a Reforma Protestante mandaram eliminar o Kildare.

A "Vita Brigitae" afirma que a Santa Brigida morreu em 1 de fevereiro de 525, dia de celebração da Deusa Brighid e que foi enterrada em um túmulo na igreja de sua abadia. Depois de algum tempo ela foi transporta para Downpatrick com os restos dos outros dois santos padroeiros da Irlanda, Patricio e Columba. Seu crânio foi extraído e levado à Igreja de São João Batista de Lisboa, Portugal, por três irlandeses nobres, onde permanece até hoje. Há uma ampla devoção a ela na Irlanda, onde é conhecida como a "Maria do Gael" e seu culto foi trazido para a Europa pelos missionários irlandeses, nos séculos depois da sua morte. Na Bélgica, existe uma capela dedicada a Santa Brígida em Fosses-la-Ville

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